Quais são os tipos de soluções mais esperadas em um desafio de inovação aberta?
Quando falamos em inovação aberta, estamos buscando soluções inovadoras para problemas públicos. Mas que tipo de solução?
O conteúdo deste post foi adaptado do livro Inovação Aberta na Prática, escrito por Bruno Martins Rizardi e Tomaz Vicente Santos, que será lançado em breve pela GNOVA/Enap, como parte da coleção Inovação na Prática. Confira os títulos já disponíveis clicando aqui
A forma como o desafio é modelado dá o caminho das pedras para as soluções que serão recebidas. Planejar a jornada do proponente tendo a solução esperada em mente aumenta as chances de que o processo de inovação aberta seja realmente útil. Para essa definição, três fatores devem ser considerados:
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Objetivo: o que se espera atingir com as soluções recebidas? O governo irá incorporar a solução vencedora ou quer apenas conhecer o mercado? Trata-se de um demonstrativo para que o governo entenda como funcionam diferentes soluções? É uma simples exploração de ideias pouco concretas em relação a algum tópico?
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Risco: quais os riscos envolvidos com a solução? Há alguma necessidade de sigilo? Há riscos relacionados à propriedade intelectual para proponentes que exponham o funcionamento de suas soluções? Serão utilizadas bases de dados públicas ou sigilosas?
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Nível de Prontidão Tecnológica (Technology Readiness Level, TRL1): diz respeito à maturidade de desenvolvimento da tecnologia esperada. Este critério ajuda a entender o nível de maturidade que se espera das soluções a serem recebidas. Seu nível mínimo corresponde a tecnologias básicas sem aplicação prática (como pesquisa de base), enquanto o nível máximo corresponde a soluções concretas testadas que já funcionam no mercado.
Determinados esses 3 fatores, é possível visualizar o resultado final do desafio e esperar 3 grandes tipos de desafios esperados:
Fatores/Resultado | Descoberta | Prototipagem | Incorporação |
Objetivo | Chamar atenção para um tema, fomentar debate e pesquisas, explorar conhecimento científico, analisar dados. | Testar possibilidades de resolução de problemas práticos e tangíveis em ambiente seguro. | Recepção de propostas para solução de problemas reais a partir de propostas maduras. |
Risco | Alta incerteza sobre o conteúdo das propostas. | Grande esforço no desenvolvimento sem garantia de incorporação. | Riscos jurídicos no processo de incorporação. |
TRL | 1, 2 e 3 | 4, 5 e 6 | 7, 8 e 9 |
Complexidade | Menor complexidade | Média a Alta complexidade | Média a Alta complexidade |
Quando aplicar? | Quando há necessidade de chamar atenção a um tema, de análise de dados, ou ainda, de um primeiro mergulho em uma temática recente ou pouco debatida. | Quando há um problema tangível a ser resolvido, ainda de forma exploratória, inovadora e sem mecanismos de incorporação. | Quando se conhece bem o problema e, ao menos, o tipo de solução esperada. Neste nível, é importante a reflexão para a escolha entre a inovação aberta e a contratação tradicional. |
Público-alvo (exemplos) |
Pesquisadores, cientistas de dados, acadêmicos e sociedade civil | Startups e empresas | Startups e empresas |
Exemplos | Premiações de pesquisas, chamadas de ideias, datathons. | Hackathons, bootcamps, programas de incubação. | Programas de aceleração, demodays. |
É importante ressaltar que um desafio pode ser modelado a partir de um ou mais resultados esperados. Desafios de incorporação, por exemplo, podem se iniciar a partir de uma chamada de descoberta de ideias, apoiar os proponentes na prototipagem de suas soluções e, ao final, acelerar as soluções e selecionar aquela que será incorporada.
A partir da nossa experiência e relacionando-se ao tipos de desafios, as soluções mais esperadas são:
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Ciência de dados (análise de dados, visualização de dados e algoritmos que nos ajudem a interpretar e comunicar dados)
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Comunicação e design (plataformas que ajudem a comunicar conceitos, ideias e informações)
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Modelos e metodologias (abordagens para entendimento ou construção de soluções baseadas em evidências)
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Software (sistemas e aplicativos que resolvam problemas, coletem e/ou permitam o uso de dados)
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Produtos e equipamentos (protótipos, produtos minimamente viáveis(MVPs) e produtos desenvolvidos)
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Políticas públicas, serviços públicos e regulação de mercados (desenho de processos e normativas)
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Intervenção comportamental (nudges, boosts, regulação comportamental, ou outras intervenções orientadas pelas ciências comportamentais)
1Desenvolvida pela NASA (Agência Espacial Estadunidense), a TLR é uma classificação utilizada por diversas organizações, como investidores, aceleradoras e agências de fomento. Veja mais em: https://esto.nasa.gov/trl/