Semana de Inovação apresenta inovações para políticas públicas centradas no cuidado e na sustentabilidade
O evento reuniu mais de 15 mil inscritos e ofereceu mais de 400 atividades, abordando temas como inclusão, acessibilidade, inovação no cuidado, e o papel da tecnologia e da ciência na construção de uma sociedade mais equitativa.
A Semana de Inovação 2024 aconteceu nos dias 29, 30 e 31 de outubro na Escola Nacional de Administração Pública (Enap), em Brasília. O maior evento de inovação pública da América Latina contou com uma programação de mais de 600 horas e a presença de convidados como Epsy Campbell Barr, Bela Gil e Ariel Palitz.
Em sua 10ª edição, a Semana de Inovação teve como tema principal "Novas Formas de Cuidar", promovendo uma reflexão sobre o papel do cuidado nas políticas públicas e inovações no governo.
A programação também abarcou cinco eixos: trabalho e saúde, ciência e tecnologia, meio ambiente e clima, diversidade e inclusão, e cidades e territórios. Esses temas deram o tom dos debates em mesas-redondas, oficinas, vivências artísticas e discussões em torno da inovação pública.
Outro ponto importante abordado no evento foi a sustentabilidade. Entre as medidas adotadas para esta edição estão a compostagem de 100% dos resíduos orgânicos e a neutralização de CO₂. A feira agroecológica também promoveu a venda de produtos orgânicos, apoiando a economia local.
Com atividades presenciais e transmissões ao vivo, a Semana de Inovação 2024 reuniu um público de aproximadamente 15 mil pessoas durante os três dias. Os participantes também contaram com um aplicativo oficial para acompanhar a programação completa e conteúdos exclusivos na plataforma virtual.
Mesa anticapacitista
A mesa "Cuidado e Anticapacitismo" trouxe a secretária nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella; a ativista e fundadora do Instituto Cáue, Mariana Rosa; e a psicóloga social e pesquisadora Karla Garcia Luz.
Anna Paula Feminella destacou a complexidade do combate ao capacitismo, um preconceito milenar, e a urgência de políticas de cuidado que assegurem os direitos de autonomia e escolha das pessoas com deficiência.
Segundo Feminella, o objetivo é consolidar uma sociedade de cuidados, onde direitos fundamentais, como o acesso à saúde, sejam garantidos de maneira plena e igualitária para todos.
Karla Garcia Luz enfatizou que o cuidado vai além das práticas básicas, englobando o direito ao pleno exercício da cidadania. Segundo Karla, esses princípios revelam as barreiras que pessoas com deficiência ainda enfrentam no acesso a direitos.
Outro ponto marcante foi a discussão sobre a ética do cuidado. Inspirado pelo Instituto Cáue, o conceito de ética do cuidado enfatiza que as práticas de assistência devem considerar os desejos e a autonomia de quem recebe os cuidados.
Esse princípio, de acordo com Mariana Rosa, reforça que a relação entre o cuidador e a pessoa cuidada deve ser um encontro de respeito e reconhecimento mútuo.
Debate sobre pobreza e segurança alimentar
A Semana contou com um renomado time de palestrantes visando trazer novas perspectivas para o setor público. Entre eles, esteve a ativista e chef Bela Gil, que abordou o tema da segurança alimentar e nutricional.
Para Bela Gil, a segurança alimentar vai além do acesso ao alimento; está ligada à qualidade e à sustentabilidade dos produtos consumidos, especialmente em comunidades em situação de pobreza.
Ela também destacou que, as estratégias adicionais, como o incentivo à produção de alimentos orgânicos e a criação de cozinhas comunitárias, são fundamentais no enfrentamento à insegurança alimentar.
Bela explicou que o conceito de segurança alimentar abrange quatro pontos essenciais:
Disponibilidade: que existam alimentos suficientes para todos, em uma produção estável e acessível.
Acesso: que todas as pessoas tenham condições econômicas e físicas de obter alimentos de qualidade.
Utilização: que o alimento seja nutritivo, seguro e aproveitado de maneira saudável.
Estabilidade: que as condições de segurança alimentar sejam sustentáveis e contínuas, mesmo diante de crises climáticas, econômicas ou sociais.
No painel “Gênero, pobreza e segurança alimentar e nutricional: olhando através da lente dos cuidados”, Bela Gil discutiu as conexões entre alimentação, gênero e a luta contra a pobreza, oferecendo um novo olhar sobre a importância do cuidado e da inclusão social na segurança alimentar.
Na mesa-redonda, Bela Gil, que é proprietária do restaurante vegetariano Camélia Òdòdó e autora de sete livros sobre alimentação e sustentabilidade, se juntou à socióloga Betânia Ávila e à secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal.
As três ampliaram o debate sobre a relação entre políticas de segurança alimentar e a promoção da inclusão social, com foco em populações vulneráveis.
Inovação Aberta para Gerar Impacto
No painel Inovação Aberta para Gerar Impacto, conduzido por Renato Ferreira (Memp), Deise Nicoletto (Impact Hub Brasil), Camila Medeiros (Enap) e Teresa de Oliveira (Sudene), o objetivo foi discutir como as parcerias entre setor público, privado e academia podem ser mais eficazes no enfrentamento dos desafios sociais e econômicos do Brasil.
Os palestrantes destacaram como a inovação aberta oferece um modelo de colaboração entre diferentes atores para a criação de soluções inovadoras. Renato Ferreira falou sobre o papel da Memp em promover a cooperação entre startups e organizações públicas e como essas parcerias podem acelerar a resolução de problemas como a inclusão digital.
Deise Nicoletto, do Impact Hub Brasil, enfatizou a importância de se criar soluções que não apenas atendam às necessidades imediatas, mas que também promovam um impacto de longo prazo. A troca de conhecimento entre diferentes setores pode gerar resultados mais robustos, além de garantir que as soluções sejam sustentáveis e escaláveis.
Camila Medeiros, da ENAP, trouxe a perspectiva de como o governo pode ser um catalisador para a inovação aberta. Através das suas ferramentas e recursos, o governo pode promover a colaboração e a integração de diferentes iniciativas que visam a melhoria da gestão pública.
Teresa de Oliveira, da Sudene, acrescentou que a inovação aberta pode ser uma chave para fortalecer a regionalização de soluções, aproveitando as especificidades locais. Dessa maneira, é possivel fomentar o desenvolvimento de soluções adaptadas às realidades de cada região.
Outro painel relevante discutiu as oportunidades, instrumentos e possibilidades para Inovação Aberta. O foco foi apresentar os recursos e instrumentos disponíveis para facilitar a implementação da inovação aberta no Brasil.
Já no painel, O Impacto da Pesquisa e Desenvolvimento e dos Parques Tecnológicos para o Desenvolvimento do Brasil, a discussão ressaltou a importância dos parques tecnológicos como ambientes propícios à inovação, oferecendo infraestrutura, apoio e colaboração entre universidades, empresas e governos.
Os temas debatidos refletem uma tendência crescente no Brasil de buscar soluções inovadoras para enfrentar os desafios nacionais. A inovação aberta, que integra diferentes setores e atores, tem se mostrado uma estratégia poderosa para promover o desenvolvimento social e econômico.
Os instrumentos e as oportunidades para a inovação estão à disposição. Agora é preciso continuar construindo pontes entre ideias e ações para gerar impacto real e transformar o Brasil de forma sustentável.
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