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Como transformar um problema em um desafio?

Escolher um problema inicial para guiar um desafio de inovação aberta é um dos passos mais importantes do processo.

O conteúdo deste post foi adaptado do livro Inovação Aberta na Prática, escrito por Bruno Martins RizardiTomaz Vicente Santos, que será lançado em breve pela GNOVA/Enap, como parte da coleção Inovação na Prática. Confira os títulos já disponíveis clicando aqui

 

A identificação de um problema inicial permitirá que a equipe defina em qual tema ou área o desafio será centrado. Nem todo problema é adequado para uma competição de inovação aberta, portanto, nesse estágio, os problemas devem ser filtrados. Um problema é um resultado indesejado, ou seja, uma situação que ocorre e não deveria estar ocorrendo.

Um problema bem definido:

  1. É importante para agentes-chave e, portanto, não pode ser ignorado;

  2. Não há consenso nem certeza sobre como deve ser resolvido;

  3. Possui escopo bem definido;

  4. Pode ser quebrado em elementos causais e menores;

  5. Permite respostas reais, sequenciais e estratégicas;

  6. É claro e conciso, podendo ser escrito em uma frase.

 

Transformando o problema em desafio

Para transformar um problema em um desafio de inovação aberta é preciso detalhar o que se sabe sobre o problema, entrevistar especialistas, ir a campo para conhecer as pessoas que sofrem com ele e detalhar o escopo da solução. Isso é feito através da abordagem de design thinking, mais especificamente, da abordagem de design etnográfico1, utilizando algumas das fortalezas da disciplina para apoiar o processo diagnóstico.

Para a jornada de transformação de um problema, nos baseamos no duplo diamante, uma das abordagens do design thinking. Ele é composto por dois “diamantes”, o primeiro para o entendimento do problema e o segundo para o desenho e teste de uma solução. O processo conta com movimentos de divergência (onde muitas informações são geradas) e de convergência, (onde as informações são sintetizadas).

Não se trata de uma “receita de bolo” mas sim um fio condutor, que pode ser utilizado de diferentes maneiras. O GNOVA, laboratório de inovação da ENAP, utiliza o modelo de duplo diamante inspirado no modelo da D.School, escola de design da Universidade de Stanford.

A jornada de construção de desafio será focada no primeiro diamante - fases de entendimento, pesquisa e ponto de vista. Já a segunda metade do duplo diamante não faz parte da modelagem de inovação aberta. Entretanto, uma vez lançado, a equipe gestora do desafio pode optar por apoiar os proponentes a desenvolver suas ideias através de apoio para prototipagem e teste de soluções, estes contidos no segundo diamante.

Figura 3: O duplo diamante da Escola Design Thinking — Echos Laboratório de Inovação; Inspirado no modelo da Stanford d.school.

O diagnóstico do problema é um processo de aprendizagem, por isso é importante utilizar diferentes maneiras para adquirir e construir conhecimentos. A pesquisa documental pode ser utilizada para analisar informações, dados e estudos sobre um problema para entender o que já se tem registrado sobre ele. Entrevistas com especialistas sobre o tema ou com o próprio público-alvo ajudam a preencher lacunas de conhecimento e a aprofundar o entendimento sobre o problema. Oficinas presenciais ou online podem reunir atores-chave para entender o problema e construir consensos de maneira colaborativa, diminuindo pontos-cegos.

Momento 1: Entendimento

O entendimento é uma etapa divergente, de geração de informações. A partir de um problema inicial, a equipe deve compartilhar seus conhecimentos e buscar informações sobre o problema. Quanto mais diversidade, melhor: contar com a participação de pessoas que possuem visão sistêmica sobre o problema (gestores), pessoas que tem conhecimento profundo sobre o problema (acadêmicos ou especialistas) e pessoas que vivenciaram o problema de perto (trabalhando na ponta ou cidadãos afetados pelo problema) só enriquece essa etapa. Para orientar o exercício você pode usar instrumentos como a espinha de peixe, a matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) e o mapa de pessoas e conexões, todos contidos na seção de ferramentas deste livro.

Momento 2: Observação

A pesquisa de campo caracteriza a fase de observação. Para realmente entender o problema é preciso que a equipe vá a campo e conheça as dores, os sonhos e o cotidiano das pessoas afetadas por ele. Quando o campo não é feito, há um grande risco de que a equipe trabalhe com uma visão distorcida (e até preconceituosa) sobre o público-alvo. Após expor e buscar conhecimentos na fase de entendimento, a equipe deve se preparar e ir a campo para entrevistar os afetados pelos problemas e gerar insights. A ideia é tanto validar lacunas observadas no Entendimento quanto adicionar uma abordagem qualitativa ao processo. Para isso recomendamos que se utilizem  três ferramentas: roteiros de entrevista, personas e mapa de empatia.

Momento 3: Ponto de vista

Na terceira etapa, a equipe irá definir seu desafio e escolher uma direção para a competição de inovação aberta. O ponto de vista é o momento final de enquadramento do desafio, no qual a equipe irá sintetizar e conectar as aprendizagens da fase de entendimento e da observação. A partir das pesquisas, análises e entrevistas será feito um processo de síntese, no qual é definida a direção e o escopo do desafio. Esse costuma ser um processo de muita discussão, pois ao definir um foco para um problema também se deixa de lado outras partes dele - e nunca é fácil definir e aceitar o que vai ficar de fora. Contudo, é importante lembrar que desafios com escopo muito amplo não costumam ter boas chances de serem resolvidos, pois acabam recebendo propostas de soluções genéricas e ineficazes.

Esse é o ponto em que se redefine o desafio a partir dos novos conhecimentos obtidos.

 

1Veja mais: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/3524